Sempre inventivo, criativo, e explosivo, com suas criações mal-criadas.
Cebolas são Azuis
Este e o primeiro filme de Marão, que o realizou como Projeto de conclusão de curso na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Marão levou dois anos e meio escrevendo, pintando os cenários, animando e finalizando os sete mil acetatos que compõem os doze minutos do curta. Apenas a etapa de filetagem e pintura dos acetatos consumiu um ano inteiro, gastando um total de quarenta quilos de acetato e vinte litros de tinta. As oitenta cores para a pintura dos personagens foram produzidas de modo caseiro, misturando tinta de parede e pigmento em potes de maionese e gatorade.
Muitos amigos da Universidade ajudaram a filetar e pintar o filme. Eles recebiam pizza
e passavam todo o final de semana pintando. Guilherme Briggs dublou todos os personagens. Briggs é um dos mais importantes dubladores atuais, sendo o dono das vozes nacionais de Buzz Lightyear, Freakazoid, Han Solo, Tarzan, Babão, Jim Carrey e Samurai Jack, entre muitos outros. A trilha sonora foi composta e executada por Pedro Pamplona, tendo sempre instrumentos de sopro como principais. Os personagens principais são identificados com temas musicais liderados pela flauta ou saxofone.. Lançado em 1996, CEBOLAS era uma das cinco únicas produções brasileiras em animação daquele ano.
Os dois mil desenhos a lápis e pintados com lápis de cor que compõem os sete minutos do
filme levaram dois anos para serem realizados.
Toda a animação foi feita em uma mesa de luz no pequeno apartamento que Marão alugava
enquanto morava em são Paulo, durante os finais de semana ou à noite, paralelamente ao
trabalho comercial nos estúdios. Todas as informações sobre a vida dos camaleões são autênticas.
O camaleão tem globos oculares com rotação independente e é capaz de olhar para a frente e para trás ao mesmo tempo, processando de alguma maneira as informações espaciais em seu diminuto cérebro e calculando a velocidade da mosca, para capturá-la em pleno vôo, com sua língua bifurcada.
Quando um camaleão encontra uma fêmea, ele exibe seu chifre para atraí-la.
Todavia, se um rival possui um chifre maior, eles têm de lutar.
Contudo, não existe violência física entre os membros desta espécie: a batalha é cromática.
Eles inflam, giram e começam então a mudar compulsivamente de cor, até que um dos dois obtenha a vitória moral sobre o outro, que aceita a derrota e vai embora, sem que haja nenhum tipo de agressão física.
Como todo o traço do filme é a lápis, sem interferência do computador, cada cenário tinha de ser redesenhado a cada frame diferente.
O bebê foi dublado pelo próprio diretor.
A moça que tem sua saia arrancada foi inspirada em uma cientista social.
Originalmente, o filme seria protagonizado apenas pelo bebê. O camaleão fazia parte de um projeto de história em quadrinhos e só foi integrado ao filme meses depois de iniciada a produção.
Muitas cenas foram, a partir daí, improvisadas, sem a história completa.
A trilha sonora tem músicas originais da compositora e cantora Luama e o violino de Daniel Marão, então com 15 anos e hoje estudante na Escola de Música da Bulgária, que interpretou Bartók e Leo Delibes. CHIFRE DE CAMALEÃO foi exibido em mais de dez países, tendo sido premiado em vários deles - como o Anima Mundi, onde foi eleito pelo público o Melhor Filme Brasileiro e Segundo Melhor Filme da competição internacional em 2000.
O diretor recebeu o apoio do MINC, através do programa de concessão de passagens aéreas
e pôde estar presente nos festivais da BBC, em Londres (onde era o único representante do
cinema brasileiro) e na Mostra Brasil Plural, na Alemanha
Marão recebe um Prêmio de Co-Produção da FUNARTE para um próximo trabalho.
Ele convida um grupo, que fará então um trabalho coletivo, chamado ENGOLERVILHA, composto por vinhetas bizarras ou escatológicas de 15 a 30 segundos.
Fábio Yamaji aceita participar e filma sua parte em Stop Motion na Trattoria.
Demian começa a cena do cachorro.
Os negativos são liberados e Marão os leva para sua geladeira.
Até agora, o filme é composto das animações prontas de Marão, Cláudio Roberto e Yamaji.
Carlos D anima uma seqüência tão assustadora e incompreensível que é eliminado do filme.
Demian já tem 30 segundos de sua cena e continua a inventar situações nojentas com o cão.
As filmagens são agendadas.
Fernando Miller é convidado a realizar uma vinheta, mas está trabalhando dia e noite para
poder pagar o aluguel e não consegue arranjar tempo.
Cláudio Roberto está cansado de esperar e considera transformar sua seqüência em um vídeo próprio.
Daniel, primo do diretor, volta da Bulgária por um mês e compõe três músicas originais no violino para as vinhetas de Marão.
Demian vem pro Rio para terminar sua cena, que já tem um minuto.
Daniel grava o violino e volta para a Bulgária.
Miller continua sem tempo.
Cláudio quer sua animação de volta para fazer dela um vídeo.
Yamaji acha que o filme nunca ficará pronto.
Carlos D inicia outra vinheta, pintando com lápis de cor.
A cena de Demian já tem um minuto e meio.
Marão convence Miller a não dormir pela próxima semana e começar sua vinheta.
No primeiro dia de filmagens a abertura, Chapeuzinho Vermelho, jogo de cartas e vacas submarinas são filmadas.
Marão e Carlos D viram duas noites pintando bosta.
Cena do Demian chega a dois minutos.
Uma animação de Mórtimer Só é encontrada no chão e é imediatamente integrada ao filme.
Demian recebe um ultimato e encerra a cena do cão, uma pilha de mais de seiscentos desenhos.
Filmagem de girafas, do cachorro que lambe o saco e das cartelas que intercalam as vinhetas. Na véspera do último dia de filmagens; a cena de Miller não está pronta. Ele vira a noite desenhando. De manhã, Marão telefona, mas ainda não está pronto. Marcam ao meio-dia. Ao passar lá para buscar os desenhos, ainda não está pronto. Miller resolve desistir, com receio de não conseguir concluir a tempo e estragar o filme.
Pedido negado. Miller e Marão seguem para FUNARTE. Enquanto Marão filma o que está pronto, Miller continua a desenhar compulsivamente na sala ao lado.Faltando cinco minutos para o fechamento do prédio da FUNARTE, ainda faltam cinco desenhos. Marão fotografa os quatro últimos. Faltando um minuto, Miller entra correndo na sala da truca, com o último desenho da galinha, no mesmo instante em que o penúltimo acaba de ser fotografado. A animação está pronta!
Adaptado de uma história em quadrinhos que fiz durante a faculdade,
este curta começou a ser desenvolvido em 2000.
Interrompido inúmeras vezes por conta de trabalhos comerciais e
abandonado para a realização de ENGOLERVILHA, após cinco anos apenas as primeiras cenas haviam sido animadas. Na verdade, não há um roteiro decupado previamente; são simplesmente cenas de luta, improvisadas pelo animador para sua própria diversão.
O filme é uma simulação de um “work in progress”.
Como um paralelo à situação entre os dois guerreiros, únicos personagens do filme, cada cena tem um grau de finalização distinto.
Algumas cenas são animadas e intervaladas, outras são arte-finalizadas
e têm sombras, outras têm apenas as posições-chave, outras estão
finalizadas e pintadas com o cenário, outras são apenas o story board
filmado.
Por um lado, esta proposta é uma metáfora, um simbolismo análogo ao não desenvolvimento da razão da peleja entre os dois inimigos.
Por outro lado, é uma desculpa para o animador desenhar apenas o que
achar mais divertido.
Quando considera muito trabalhoso intervalar por conta do excesso de
detalhes, o animador simplesmente fotografa as posições principais doze
vezes e não faz os desenhos intermediários.
Quando considera a sombra um elemento dramático relevante, ele pinta um cenário para compor a seqüência e anima sombras projetadas.
Quando tem preguiça, deixa tudo preto-e-branco, sem cenário nenhum. Partindo do mesmo conceito, há apenas dois personagens.
Sem vestimentas detalhadas e com apenas três dedos em cada mão, para agilizar o processo.
Afinal, nunca me pareceu muito sensato animar cinco dedos em cada mão de um personagem desenhado.
Utilizar quatro não faz diferença nenhuma ao público.
Certa vez tive de me submeter à insanidade do design de um personagem imposto para um comercial para TV, que tinha SEIS dedos.
Em cada frame, eu tinha de animar doze dedos!
Doze!
Em cada frame!
Preferi ficar com três.
É o suficiente.
Eles conseguem empunhar suas espadas.
Um tem somente pupilas e o outro apenas os globos oculares.
A dificuldade maior era fazer parecer que estavam olhando para o lado
sem virar suas cabeças.
Em 2004, este projeto foi premiado no Concurso de curtas do MINC.
Pela primeira vez, fiz um filme com apoio financeiro.
Apesar das cenas simplificadas, há muitas outras em full animation, com efetivamente 24 desenhos por segundo, fotografados apenas uma vez cada. As músicas são da Luama, que havia cedido composições suas para CHIFRE DE CAMALEÃO e de Daniel Marão, hoje estudando na Alemanha e que havia tocado violino no CAMALEÃO aos quinze anos e em ENGOLERVILHA aos dezoito, onde compôs temas originais seus pela primeira vez, para várias seqüências.
Este é o meu primeiro filme com diálogos, que são interpretados pelo Guilherme Briggs e por mim. Briggs se tornou o mais importante, melhor e mais assíduo dublador brasileiro, trabalhando em filmes, séries, desenhos, internet, ininterruptamente.
Eu, não.
Silvana é minha assistente de produção, como foi nos outros filmes.
Na realidade, a equipe é praticamente a mesma dos outros curtas.
A diferença é que desta vez eu pude pagá-los.
Algumas cenas foram finalizadas digitalmente, pintadas, compostas e renderizadas no computador pelo Alessandro Monnerat, para posterior kinescopia.
Outras foram filmadas na truca, no sistema arcaico. Não sei se vai dar certo.
adorei esse trabalho, amo desenhar gostaria muito de aprender
ResponderExcluir......sobre essa área de animação. Me fascina!
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho Marcelo Marão!!!
ResponderExcluir